Com a proliferação das escolinhas de esportes que visam treinamentos competitivos e a velocidade como capacidade motora decisiva na obtenção dos resultados almejados, professores desconsideram as limitações impostas pelos organismos das crianças. Eles acabam impondo um treinamento intenso, utilizando-se a via da glicólise anaeróbica, utilizando-se das normativas delineadas para o público adulto.
As limitações impostas pelos organismos das crianças através do sistema endócrino, com a menor liberação de adrenalina e o metabolismo limitado em suas reações por enzimas que atuam como catalisadoras (como a fosfofrutoquinase), dificultam a produção de energia através da via glicolítica anaeróbica.
Alguns aspectos são importantes de serem analisados:
Sistema Glicolítico
WILMORE e COSTILL (2001 p. 122) descrevem o sistema glicolítico como um “método de produção de ATP que envolve a liberação de energia através da degradação (lise) da glicose.”
A Influência do sistema hormonal no metabolismo anaeróbico
Durante o exercício máximo (capacidade anaeróbica), nosso corpo é exigido enormemente, o que acarreta em respostas fisiológicas para suprir essas demandas. O sistema endócrino exerce esse controle através da liberação hormonal para a manutenção da homeostasia.
Para WILLIAMS e ARMSTRONG (1991 p. 111), estudos sugerem inferiores concentrações de lactato no sangue e músculos após o exercício máximo em crianças em relação aos adultos, para as mesmas intensidades de esforço. Os pré-mecanismos por detrás desta diminuída resposta do lactato ainda têm de ser esclarecida, mas existem na literatura possíveis explicações para determinar os fatores que contribuem para essa ocorrência:
1)Nas crianças o perfil metabólico oxidativo é melhor equipado do que a geração glicolítica de energia.
2)Fraca resposta das catecolaminas ao exercício.
Conforme MARZZOCO e TORRES (1999, p. 270), as catecolaminas, principalmente a adrenalina (ou epinefrina), exercem papel fundamental na regulação do metabolismo. A liberal de adrenalina pela medula da supra-renal é provocada por estímulo nervoso autônomos em vários tipos de situações, como ocorre no caso da prática de exercício físico. Entre os efeitos mais importantes, podemos citar a glicólise muscular e hepática, e aumento da força e ritmo cardíacos.
- Diferenças metabólicas entre crianças e adultos
MARZZOCO e TORRES (1999 p. 72), lembram da importância da concentração das enzimas para o aumento da velocidade de reação, afirmando que esta é proporcionalmente direta, ou seja, com a variação da concentração de enzima, a velocidade das reações sempre irá variar.
Conforme WILMORE e COSTILL (2001 p. 534), “A habilidade da criança de realizar atividades anaeróbias é limitada. A criança possui menor capacidade glicolítica, possivelmente em decorrência de uma quantidade limitada de fosfofrutoquinase”.
- O metabolismo anaeróbico e a maturação biológica
WILMORE e COSTILL (2001 p. 519) enfatizam que: com a crescente popularidade do esporte juvenil e a ênfase sobre o condicionamento físico da criança, devemos compreender os aspectos fisiológicos do crescimento e desenvolvimento.
A criança e os adolescentes não devem ser vistos como miniaturas dos adultos. Eles são únicos em cada estágio de seu desenvolvimento. O crescimento e o desenvolvimento de seus ossos, músculos, nervos e órgãos ditam, em grande parte, as suas capacidades fisiológicas e de desempenho.
À medida que o tamanho da criança aumenta, também o fazem quase todas as suas funções. Isso é verdadeiro para a habilidade motora, a força e as capacidades anaeróbicas. PRAAGH (2000 p. 221) relata que as crianças pré-puberes e adolescentes têm menor capacidade anaeróbica que os adultos durante exercícios que demandam alta intensidade de exercício. Para PRAAGH (2000 p. 158) as alterações hormonais e adaptações neurológicas (juvenis, a melhoria da coordenação motora) que ocorrem na puberdade são fatores importantes de melhoria da capacidade anaeróbica durante esta fase do crescimento.
CONCLUSÃO
A capacidade anaeróbica lática é fator decisivo para o desenvolvimento da resistência de velocidade, podendo ser decisiva para a vitória nos esportes de competição. Os estudos parecem mostrar que o organismo das crianças são limitados fisiologicamente para o desenvolvimento dessa capacidade, tanto sob o aspecto metabólico, como pelo sistema endócrino.
Apesar dessa constatação, ainda hoje professores prescrevem atividades intensas voltadas para maximizar essa capacidade. Portanto, deve-se respeitar as limitações impostas pelos organismos das crianças, ao se prescrever atividades condizentes as fases especificas, desenvolvendo a capacidade glicolítica aneróbica no momento oportuno, evitando-se, assim, que a atividade física torne-se prejudicial à saúde.
- REFERÊNCIAS
MARZZOCO, Anita; TORRES, Bayardo Batista. Bioquímica Básica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999.
WILMORE, Jack H.; COSTILL, David L. Fisiologia do esporte e do exercício. Tradução Dr. Marcos Ikeda. 2ª ed. São Paulo: Manole, 2001.
WILLIAMS, Joanne R.; ARMSTRONG, Neil. The influence of age and sexual maturatior on children’s blood lactate responses to exercise. Pediatric Exercise Science, 1991, 3, 111-120.
PRAAGH, Emmanuel Van. Development of Anaerobic Function During chilhood and adolescence. Pediatric Exercise Science, 2000, 12, 150-173.
Técnico de Futsal, Futebol e preparador fisico Formação Acadêmica: Especialização em Treinamento Esportivo UFMG - 2014 Curso Superior de Educação Física Faculdade Estácio de Sá – 2008